Guia básico de transição para a cosmética natural

Por naturices, 03/10/2020

Não é mais novidade que os cosméticos naturais são infinitamente melhores do que os convencionais, cheios de químicas nocivas ao nosso corpo e ao meio ambiente. E tal afirmação vem ganhando aprovação popular. Segundo a Associação Brasileira da Indústria de Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos (Abihpec), o mercado da cosmética natural, vegetal e vegana só cresce. Se você, assim como eu, quer começar uma transição para os produtos naturais, vale gravar algumas informações essenciais. Lembrando que escrevi transição, porque é um processo lento. Não jogue todos os seus produtos industrializados fora! Vá usando e trocando aos poucos, afinal, o meio ambiente também é uma preocupação por aqui.

Arte: Naturices

Marketing: o famoso Green Washing
Não se deixe enganar pelo marketing de algumas marcas, que abusam do termo natural para vender produtos que não são naturais. Para ser considerado oficialmente natural, o cosmético precisa ter matérias primas naturais em 95% de sua composição. Portanto, é importante ler o rótulo do que você consome. Saiba que ali, na composição, a ordem de cada componente da fórmula é descrita de acordo com a quantidade: o que vem primeiro é o que tem mais e o que vem por último, menos. Pode reparar que muitas marcas “convencionais” fazem o marketing em cima de um ingrediente natural, mas na descrição da composição, este se localiza em último ou penúltimo lugar, antecedido por um monte de nomes químicos e tóxicos. Se o rótulo não possui composição, então, é fria.

Cuidados
A cosmética natural requer maiores cuidados com cada produto. Quanto mais livre de ingredientes químicos, sintetizados, melhor. E não é difícil perceber quando o produto é natural mesmo. Basta ficar atentx, pois os realmente naturais merecem algumas considerações:

* Temperatura ambiente! O óleo de coco, por exemplo, é base para muitas formulações naturais, assim como o óleo de palmiste e manteigas moles como a de karité. Os óleos vegetais se apresentam na forma líquida à temperatura de 25ºC. Então se você mora num lugar muito quente, seu produto pode derreter. Ao contrário de temperaturas muito baixas, que podem endurecer demais o produto. A mudança de estado físico do produto pode ser corrigida colocando o mesmo em geladeira para endurecer ou banho maria (ou até debaixo da água quente do chuveiro) para amolecer. Não vai comprometer a qualidade, é como fazemos com a manteiga ou o mel na cozinha. 🙂

*Se acostume com o fato de ter menos espuma (low-poo) – ou de não ter espuma mesmo (no-poo). A espuma não está diretamente ligada com a limpeza. Crescemos vendo aquela nuvem de espuma na modelo no comercial de xampu ou sabonete, mas vamos acabar com um mito: espuma se chama Lauril Sulfato de Sódio (LSS) e não limpa, apenas mascara a limpeza e ainda prejudica o meio ambiente, uma vez que polui as águas, os rios e mares. No começo é estranho usar um sabonete que quase não faz espuma, mas depois que você se acostumar, vai achar bizarro o tanto de espuma LSS que usava antes.

*Aprimore seu olfato e sinta os cheiros da natureza. Melaleuca, andiroba, copaíba, óleo de palma, manteiga de cacau… os aromas da natureza são bem diferentes dos produtos industrializados. E são muito maravilhosos! Eu sofria muito de rinite alérgica (esse foi o principal motivo da minha transição). Eu abria um xampu e começava a espirrar. Realmente os cheiros dos cosméticos industrializados podem ser um veneno.

*Sabonete sem cheiro é normal. Já usei muitos sabonetes sem cheiro que são maravilhosos. O sabonete natural vai limpar e hidratar, que é o que precisa. Costumo deixar o cheiro para um creminho ou perfume. Também não curto a ideia de cada produto ter um cheiro diferente, prefiro focar em um aroma só! Existem muitos sabonetes naturais super gostosos e hidratantes sem cheiro. O preço também é mais em conta, pois óleo essencial (que perfuma o sabonete natural) é caro. Fuja de essências, elas são sintéticas e podem causar alergias.

SABONETE QUE EU FIZ: Macadâmia com Capim-Cidreira.

*Ainda sobre o tão amado sabonete natural: acostume-se com o fato de que ele “derrete” mais rápido do que o convencional. O sabonete que você compra por 1 real no supermercado é feito para ficar duro. Quando você fica um tempo sem usar, ele apresenta umas rachaduras, né? Isso é o que o sabonete industrializado faz com a sua pele: racha e resseca.

*Aumente sua cultura geral! Entenda cada ingrediente da fórmula, suas propriedades, sua história, quais povos ancestrais se utilizavam de determinada erva e em quais situações. A utilização da natureza na pele traz também uma boa bagagem para o cérebro.

*Siga as instruções! Isso é regra para tudo na vida, mas principalmente para os produtos naturais. Se está escrito “aplique com espátula”, não coloque a mão no creme. Se está escrito “fotossensível”, não vá para o sol após o uso. Se está escrito “agite antes de usar”, é para agitar – e bem. A ausência de produtos químicos que promovem certas texturas faz com que a gente precise seguir a risca as dicas de uso.

*Falando em dicas de uso, vale saber que os cosméticos naturais são muito versáteis. Valorizo as pequenas marcas que indicam o uso de um mesmo produto na pele e no cabelo, por exemplo, e que realmente se preocupam em te passar uma gama de usos de seus itens. Um mesmo produto pode ser utilizado nas mãos, rosto e lábios, por exemplo. Uma das vantagens da cosmética natural é o minimalismo: você não precisa de um hidratante para cada parte do corpo. Isso é balela da indústria para vender mais.

*Validade curta! Os produtos naturais possuem validade de 6 meses em média. Esse é um dos principais sinais do quão natural o cosmético é. Aquele que é 100% natural, in natura, tem validade de dias. A vantagem, mais uma vez, é o minimalismo no nécessaire. Você não precisa ter 3 xampús e 4 cremes hidratantes. Compra um, usa, terminou, compra outro! De quebra, dê adeus à bagunça no banheiro.

*Meio ambiente: essa é uma grande preocupação dxs adeptxs da cosmética natural. Menos química escoando pelo ralo da pia ou do box. Menos química poluindo os lençóis freáticos. E, obviamente, zero testes em animais. Os artesãos de produtos naturais testam em si, na família, nos amigos… Ao migrar para a cosmética natural você faz a sua microparte com a mamãe Natureza.

*Absorção: repare que a pele chupa rapidamente o creme natural, levando suas propriedades umectantes para a derme, que é o que interessa. Na derme estão as glândulas sebáceas que regulam a viscosidade e o brilho da pele. O creme convencional deixa uma película de óleo mineral na epiderme, ou seja, fica uma falsa hidratação… que não passa da superfície. Muita gente fala que o hidratante deixa uma sensação de grude na pele – é isso, o seu corpo não absorve e a pele continua seca.

*Tenha paciência e saiba que o que funciona para o outro pode não funcionar para você. Cada pele é de um jeito, somos indivíduos únicos. Por fim, repare na sua pele e no seu cabelo e entenda do que eles gostam. Se observe, olhe para si mesmx. Faz bem!